Entrevista FSP

Bolsonaro não vai dar golpe no 7 de Setembro, mas atos são preparação para isso, diz Marcos Nobre

Para presidente do Cebrap, bolsonarismo está hoje muito mais organizado que o campo democrático

Folha de S Paulo – 06/09/21

Naief HaddadSÃO PAULO

Marcos Nobre, professor de filosofia da Unicamp e presidente do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, o Cebrap, não acredita que haverá um golpe neste 7 de setembro. Mas a mobilização bolsonarista no feriado é, segundo ele, preparação para uma ruptura.

“O que Bolsonaro planeja é uma invasão do Capitólio organizada”, afirma Nobre em referência à multidão que ocupou o Congresso dos EUA em 6 de janeiro deste ano sob o estímulo de Donald Trump, presidente do país àquela altura.

Marcos Nobre, professor da Unicamp e autor de “Ponto-final: a Guerra de Bolsonaro contra a Democracia” – Jardiel Carvalho/UOL

O autor do livro “Ponto-final: a Guerra de Bolsonaro contra a Democracia” enfatiza que o campo democrático precisa entrar com urgência em um acordo, considerando que o objetivo de Jair Bolsonaro (sem partido) é —e sempre foi— dar um golpe. Portanto, avaliações de cenário que sejam unicamente eleitorais são insuficientes neste momento.

De acordo com ele, o debate sobre o projeto autoritário do presidente precisa subir alguns degraus, tornando-se mais complexo. “As discussões têm sido muito rasas. Dizem: ‘Ele vai dar um golpe porque está desesperado’. Não é isso! Ou falam: ‘Lula já ganhou’. Não é assim.”

“A desarticulação da sociedade é tão grande que a impotência vira virtude. Como se a situação pudesse ser resolvida sozinha, como se a inércia fosse a melhor posição (‘não precisamos fazer nada, Bolsonaro já está derrotado’). Não temos um final feliz garantido”, diz Nobre à Folha.

Devemos temer os protestos bolsonaristas neste 7 de Setembro? ​Depende da expectativa. Se a expectativa é: vai ter um golpe em 7 de setembro? Não, não vai. Se a expectativa é: é uma preparação para o golpe? É. Na verdade, é um exercício de mobilização de tropas, dá um efeito importante, esperar um golpe que não vem. Aí se faz um novo exercício e, mais uma vez, é um golpe que não vem. Quando vem, você está despreparado pra ele.

Todo mundo compara [o que o bolsonarismo pode fazer] com a invasão do Capitólio, mas o episódio nos EUA foi muito desorganizado. O que Bolsonaro planeja é uma invasão do Capitólio organizada. Mais de um ano antes da eleição, ele começa a organizar como se dissesse: “Quando for para fazer, que não seja aquela bagunça dos EUA, aqui tem que ser bem feito”. Para tanto, ele precisa dessa mobilização no 7 de Setembro.

O 7 de Setembro pode ser visto, então, como prévia de um possível golpe? Sim. É preciso deixar claro o seguinte: desde que se apresentou como candidato, o objetivo de Bolsonaro é dar o golpe. Há três caminhos para isso: a via eleitoral pura, um golpe antes da eleição e um golpe combinado com a eleição.

É claro que o golpe pela vitória eleitoral seria mais simples para ele, mas, não tendo esse, há as outras duas opções, dependendo de como ele continuar. E ele continua muito bem posicionado para realizar qualquer um desses três caminhos. Mesmo depois de tudo o que ele fez e com o país na situação em que está, Bolsonaro tem o apoio de um quarto do eleitorado.

A questão dele, portanto, é dar o golpe. O problema é o desequilíbrio entre esse projeto dele e o campo democrático brasileiro, que continua fazendo cálculos meramente eleitorais. O campo democrático joga amarelinha enquanto o Bolsonaro está montando um octógono de MMA, essa é a diferença. O campo democrático só pensa em termos eleitorais; para Bolsonaro, não existe esse limite.

Essa clareza sobre o verdadeiro projeto do Bolsonaro tem se espalhado, mas ainda não é suficiente para unir o campo democrático. E a prova maior é que não houve impeachment. É um sinal desse desequilíbrio: de um lado, uma sociedade acostumada com regras democráticas e que, portanto, só pensa em termos eleitorais; do outro, alguém disposto a destruir a democracia.

Em vez de pensar em como defender a democracia para que exista eleição, esse campo fica fazendo cálculo eleitoral, avaliando como cada passo vai beneficiar o candidato A ou B. Não quero dizer que cálculos eleitorais não sejam importantes. São muito, precisamos continuar apostando que teremos eleições. Mas isso não significa ignorar o outro lado, que não se restringe a isso.

Por isso, é hora de parar de falar em arroubos e bravatas. Não é nem uma coisa nem outra, são etapas de um cronograma de um golpe. Vamos parar de usar palavras inadequadas.

É preciso, então, levar Bolsonaro a sério quando ele diz ter três alternativas para o futuro: “estar preso, ser morto ou a vitória”Sim. A única saída para ele é o golpe, mas isso é desde sempre. O grande objetivo dele não é ganhar eleição, é dar um golpe. A eleição é só um dos elementos táticos envolvidos nesse objetivo. Enquanto isso não ficar claro para todos, o combate ao Bolsonaro será cada vez mais complicado

Hoje, o cenário mais provável para ele é uma combinação de eleição com golpe, o que significa chegar ao segundo turno —e Bolsonaro tem plenas condições de fazer isso, principalmente se não houver uma candidatura de direita não bolsonarista. Se ele sair derrotado por uma diferença de, vamos dizer, 60% a 40%, estão dadas as condições para o golpe. E não é nem um pouco irrealista imaginar um cenário assim.

O objetivo dos bolsonaristas é diminuir ao máximo a margem em relação à candidatura Lula (se for mesmo o Lula em um segundo turno) para poder criar um clima necessário para um golpe.

É preciso ter um apoio muito grande contra o golpe para que ele não aconteça, o que implica um pacto da esquerda e da direita não bolsonarista. Sem esse pacto, o Bolsonaro sai na frente porque o objetivo dele não é eleitoral, a eleição é só mais um dos elementos no cronograma do golpe. E o outro lado tá pensando só em termos eleitorais.

Setores da esquerda admitem que os atos da oposição neste 7 de Setembro serão mais modestos numericamente em relação aos protestos da turma de Bolsonaro. Não é um erro de estratégia insistir nessas manifestações mesmo sabendo que haverá esse descompasso? ​Sem dúvida, mas o problema é mais profundo. O bolsonarismo tem um grau de organização muito mais elevado do que o campo democrático. Fala-se muito que Bolsonaro está fraco ou acuado, mas veja: qual o objetivo dele? Dar um golpe.

E o que precisa para isso? Uma base de apoio numericamente significativa e fiel, uma máquina de propaganda e desinformação muito bem organizada, capaz de mobilizar em direção ao golpe. Ele tem tudo isso. E o campo democrático não tem hoje uma organização semelhante para contrarrestar esse movimento.

Por quê? Primeiro pela razão eleitoral, que já vimos. Um lado diz que não vai se aproximar da esquerda para não beneficiar o Lula e rejeita o acordo. Para o grupo em torno da candidatura Lula, o ideal é enfrentar o Bolsonaro do ponto de vista eleitoral. Também não há interesse em se reunir com a direita não bolsonarista.

O que impede a aliança, então, é a eleição. Não percebem que a eleição é a miragem, é a cenoura que o Bolsonaro colocou ali na frente para todo mundo. Como se ele fosse parar na eleição, mas não vai.

O fato de não conseguir sequer fazer uma discussão dentro do campo democrático sobre o ato unificado é gravíssimo. Antes de organização, não há articulação, as pessoas não sentam para conversar sobre a gravidade do momento. O bolsonarismo está organizando estes protestos há mais de dois meses. O campo democrático precisa se reunir e reconhecer isso.

Sobre os atos de oposição do 7 de Setembro, eu só gostaria de separar o Grito dos Excluídos, que acontece todo Dia da Independência desde 1995. É uma manifestação tradicional, que deveríamos considerar à parte.

O senhor falou que um dos caminhos do golpe seria via eleitoral pura. Como seria? É o caminho dos populismos autoritários da década de 2010. Instaura-se o autoritarismo pela via eleitoral. Depois de ganhar a eleição, vai destruindo as instituições por dentro.

Muitas pessoas me dizem: ‘Não é possível que o Bolsonaro tenha um projeto’. Eu respondo que todo autoritário tem um projeto, e a primeira etapa é destruir, ação na qual ele mobiliza um sentimento antissistema, que é muito forte. Só em um segundo momento é que vai realmente aparelhar todas as instituições e começar a restringir as liberdades.

A primeira etapa deu certo nos EUA, o que não deu certo foi a segunda, o golpe que Trump estava tentando.

Bolsonaro tem uma vantagem: Viktor Orbán foi eleito em 2010, Donald Trump em 2016. Ele teve tempo de acompanhar a invasão do Capitólio de maneira desorganizada, assim como teve tempo de ver a situação da Bolívia, na qual o golpe começou nas polícias, e não nas Forças Armadas.

Com base em todas essas informações, diria que o golpe é o cenário mais provável? É preciso separar as duas coisas. A probabilidade de acontecer um golpe é uma, a probabilidade de ser bem-sucedido é outra.

Sobre o primeiro ponto: depende de como o campo democrático vai reagir a essas ameaças. Temos hoje a impressão de que essa consciência de que Bolsonaro tem um projeto autoritário e não vai ser domado está se espalhando. Mas não significa que ele tenha perdido a base de apoio, que é, em geral, antissistema e, em boa parte, autoritária. Esse apoio que ele tem é impressionante.

Qual será a atitude dessa consciência de que o projeto de Bolsonaro é pra valer? Se o campo democrático continuar fazendo cálculo meramente eleitoral, aumenta a chance do golpe ser bem-sucedido. Se não ficar claro para esse campo, especialmente para a esquerda, que a direita não bolsonarista precisa ter uma candidatura competitiva, aumenta a probabilidade do golpe ser bem-sucedido. Se a direita não-bolsonarista não for capaz de construir uma candidatura competitiva, aumenta a probabilidade de sucesso de golpe. São todas essas coisas juntas.

Eles precisam se unir em acordo não-eleitoral de defesa de democracia. Mas há um efeito eleitoral: qualquer candidato que passar para o 2º turno terá o apoio de todas as outras forças democráticas, não importa quem seja. É o que se chama de frente ampla, isolando Bolsonaro de maneira radical. Se ele conseguir uma votação expressiva no 2º turno, vai se sentir fortalecido para tentar o golpe.

É claro que Bolsonaro não vai, necessariamente, chamar ele mesmo o golpe. Pode não ser o iniciador, mas, evidentemente, se o golpe vem, ele é o único beneficiário possível.

A mobilização dos policiais é hoje mais preocupante para uma eventual ruptura do que uma insurgência das Forças Armadas? Sobre as Forças Armadas, a gente não sabe. Sobre as polícias, a gente sabe muita coisa e o que se sabe é preocupante. As polícias são estudadas por vários centros de pesquisa competentes e, por isso, temos elementos para dizer que o bolsonarismo nessas corporações é muito significativo e radicalizado.

No caso das Forças Armadas, temos muito impressionismo, as pessoas acham isso ou aquilo. O que podemos dizer de objetivo em relação a elas é que não vão apoiar um golpe se houver uma grande organização em defesa da democracia.

Se o Bolsonaro conseguir criar um clima de divisão do país, que é o que ele vai tentar fazer até o ano que vem, radicalizando a população, aí, de fato, é muito difícil imaginar o que as Forças Armadas poderão fazer.

Bolsonaro sabe que precisa de organização. E o 7 de Setembro é a demonstração da organização, da mobilização e da capacidade de ação.

Um grande teste? Sim, é quase uma manobra militar.

Quando fala em uma grande maioria da população para deter o golpe, quer dizer o quê? Segundo o último Datafolha, 51% consideram o governo ruim ou péssimo, e 24%, regular. É suficiente? Acho razoável supor que sim. Mas é impressionante que exista um quarto que o apoia. Me choca quando dizem que Bolsonaro tá fraco, acabado, nas cordas… Fraco em que termos? Eleitorais? Mas eleição para ele é só uma tática. Como está fraco se o objetivo dele não é a eleição, e sim o golpe?

Para o que ele quer —o caminho preferencial é uma combinação de segundo turno com golpe—, ele mantém perfeitamente a posição dele, contra todas as probabilidades. A situação do país é deplorável, estamos numa situação falimentar, de sofrimento social brutal, e um quarto apoia esse governo e tem disposição em votar nele.

Me preocupa que muitos achem que ele já está derrotado. E derrotado eleitoralmente, que ele só tem o golpe para dar. Não! A grande cartada dele é a combinação de golpe e eleição. Ele está bem posicionado para o projeto dele. Quem está mal posicionado é o campo democrático, que acha que já ganhou.

Manifestações de cunho mais agressivo neste dia 7, estimuladas pelo presidente, poderiam afugentar o centrão, reduzindo apoio ao governo no Congresso? O que afugenta o centrão são duas coisas: falta de recursos estatais e de votos. Não faltam recursos para eles. No caso dos votos, há um problema regional, que é o Nordeste. Bolsonaro vai ter que ignorar o fato de que vários que estão no governo, que o apoiam agora, não vão apoia-lo na eleição no Nordeste porque seria suicídio eleitoral.

É uma ilusão achar que o centrão tem pudores contra radicalismos, isso não faz o menor sentido. Eles não têm nenhum problema com isso. O que importa é ter acesso aos fundos públicos mais do que os outros.

Vê alguma possibilidade de impeachmentNão vejo nenhuma viabilidade para o impeachment. Para que fosse viável, o campo democrático deveria ter feito um investimento enorme pra reduzir essa base de apoio fiel para menos de 20%, no mínimo, algo que não aconteceu. Bolsonaro tem a presidência da Câmara, apoio de um quarto do eleitorado, uma máquina de desinformação e propaganda, uma base nas Forças Armadas e nas forças policiais. Tudo isso é muito bom como dispositivo, considerando o projeto que ele tem.

Mesmo se acontecesse, o impeachment não eliminaria o fato de que a extrema direita se organizou no Brasil, tem base eleitoral e social. Vai ser necessário conviver com ela durante muito tempo.

É bom lembrar também que essa próxima eleição presidencial será radicalmente diferente da eleição passada porque, em 2018, não houve um candidato à reeleição, como aconteceu em 1989 e 1994. Quando se tem um candidato à reeleição, e sendo ele extremamente polarizador, não sobra lugar para outsiders, só para quem tem recall.

Por conta da questão do financiamentos partidário e eleitoral, os partidos precisam colocar todos os esforços no que é mais viável do ponto de vista estratégico. Construir uma candidatura presidencial do nada é muito cara e significa tirar recursos que poderiam ir para campanhas de senadores, deputados federais etc.

Ou seja, uma terceira via teria pouca chance de sucesso? Sim, mas existe uma possibilidade para a direita não bolsonarista, que é fazer um acordo com Ciro Gomes, o único dos outros possíveis candidatos que têm recall. Talvez esse acordo seja impossível de ser viabilizado.

O que estou dizendo é pura lógica, não tem juízo de valor. Outsiders não terão chance. Além de Lula e Bolsonaro, qual candidato tem recall? Ciro. Se a direita não bolsonarista quiser ter uma candidatura competitiva, terá que fazer um acordo com o Ciro. Pode ser inviável, mas hoje é a única saída que eu vejo. Do contrário, teremos uma disputa entre Lula e Bolsonaro já no primeiro turno.

Lembra-se de algum 7 de Setembro tão carregado como esse? Tão tenso? Os 150 anos da Independência, em 1972, foi muito carregado no sentido mais brutal que pode existir. Era o auge da ditadura militar, o auge dos assassinatos. Mas com essa ideia de um golpe no horizonte, não. Não existem precedentes nesse sentido de usar a data como prenúncio para um golpe, como exercício para um golpe.

MARCOS NOBRE, 56

É professor de filosofia da Unicamp e presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), no qual está desde 1990. É autor de livros como “Imobilismo em Movimento”, “Como Nasce o Novo” e “Ponto-final: a Guerra de Bolsonaro contra a Democracia”

Publicado em https://www1.folha.uol.com.br/poder/2021/09/bolsonaro-nao-vai-dar-golpe-no-7-de-setembro-mas-atos-sao-preparacao-para-isso-diz-marcos-nobre.shtml

A eleição da vingança

A democracia virou arma de destruição que uma parte do eleitorado aponta contra a outra

MARCOS NOBRE

03out2018_07h30

  

Em 2014, depois de uma vitória apertada, Dilma Rousseff resolveu fazer o contrário do que tinha prometido como candidata. Aécio Neves resolveu não aceitar o resultado das eleições, com ações na Justiça e a convocação de manifestações de rua. E a Lava Jato começou a passar a motoniveladora no sistema político.
Foi nesse momento que Bolsonaro entrou em campanha. Seu discurso dizia que o PT precisava ser eliminado, mas que o PSDB não merecia destino diferente. Os tucanos tinham perdido nada menos do que quatro eleições seguidas para o PT por uma razão simples: não eram antipetistas o suficiente para ganhar. Eram farinha do mesmo saco, estavam mancomunados para se manter no poder, em um joguinho de fingimento. Bolsonaro prometia o antipetismo de raiz, sem a gravata e o ar-condicionado do PSDB.

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Marina entra no jogo

Marina entra no jogo
Candidata enfim define estratégia à altura de seu potencial

Marcos Nobre

Parte relevante do eleitorado busca já há algum tempo escapar da alternativa PT-PSDB. Em 2010 e 2014, esse papel de escape coube a Marina Silva. Nos dois casos, terminou em terceiro lugar, com uma votação próxima de 20%.

A partir de 2014, as preferências de voto no PSDB se mostraram muito menos sólidas do que as do PT. E isso antes mesmo das revelações que tornaram Aécio Neves um morto-vivo político. O desejo de romper a alternativa ameaça muito mais a posição do PSDB no segundo turno do que a do PT. Porque o PT tem uma impressionante fortaleza de votos chamada Lula. Daí que a eleição acabe se estruturando nos polos Lula e anti-Lula, muito mais do que PT e PSDB.

A última eleição foi marcada por uma grande reviravolta. Marina Silva só assumiu a cabeça da chapa após a trágica morte, em 13 de agosto, de Eduardo Campos, então principal desafiante da alternativa PT ou PSDB. Formou-se ali uma onda pró-Marina e a candidata ultrapassou Aécio Neves nas pesquisas já no final de agosto. Chegou a empatar com Dilma Rousseff em 34%, deixando Aécio em terceiro, com apenas 15%. O candidato do PSDB ainda teve tempo de reagir. Ultrapassou Marina novamente às vésperas do primeiro turno e foi ao segundo turno contra Dilma.

São muitos os fatores que podem explicar como e por que essa dupla reviravolta aconteceu. O principal foi a campanha negativa contra Marina realizada pela candidatura Dilma. Sem tempo nem recursos à altura para responder, Marina perdeu intenção de voto para Aécio na mesma proporção em que havia conquistado ao longo dos quarenta dias anteriores.

 

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Quem será o anti-Lula?

Quem será o anti-Lula?
Alckmin, Marina e o voto útil de direita no primeiro turno

Marcos Nobre

A montanha-russa das pesquisas ainda não veio. A única real novidade dos últimos levantamentos é um candidato que, preso, conseguiu subir quatro pontos na intenção de votos. Lula chegou a 37%. É a mesma porcentagem que tinha na pesquisa Datafolha de 30 de agosto de 2002, ano em que venceu sua primeira eleição presidencial. Hoje, a vantagem de Lula em relação ao segundo colocado (Jair Bolsonaro, com 18%), é muito semelhante àquela que tinha em relação ao segundo colocado no Datafolha de 30 de agosto de 2002, Ciro Gomes, que registrava então 20%.

A grande diferença da situação atual em relação àquela de 2002 é que José Serra (que chegou ao segundo turno naquela eleição) estava então em empate técnico com Ciro (tinha 19%). Hoje, a terceira colocada, Marina Silva, com 6%, surge a grande distância do segundo colocado, em empate técnico com Geraldo Alckmin (5%) nesse cenário com Lula.

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Tempo eleitoral

TEMPO ELEITORAL: MODOS DE USAR
Os dilemas do PSDB e do PT numa disputa atípica

A dispersão de votos em cenários sem a presença de Lula impôs essa nova lógica. As máquinas partidárias empurraram suas decisões para utilizar os limites máximos de prazo e reduzir ao mínimo o tempo próprio de campanha. Tudo é resolvido em cima da hora e o clima geral é de salve-se quem puder, cada um com seus problemas.
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A Cisão

A CISÃO

Eleição tende a acentuar dramaticamente o fosso entre azuis e vermelhos

Do jeito que se armou a eleição presidencial, as coisas caminham para novo embate entre PT e PSDB. As novas circunstâncias tendem a reforçar ainda mais traços preocupantes de confrontos presidenciais anteriores entre os dois partidos. Em especial, tendem a agravar em nova chave a tendência de cisão entre Norte e Sul do país que vem desde a eleição presidencial de 2006.

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Bolsonaro

Bolsonaro – Elitismo e democracia na campanha eleitoral

Marcos Nobre

A hegemonia dessa tática equivocada de confronto da candidatura de Bolsonaro não é casual, entretanto. No fundo, disfarça mal seu elitismo, que pressupõe saber quem pode e quem não pode se apresentar na eleição. É uma tática de confronto que não admite nem aceita a candidatura de Bolsonaro como legítima em uma democracia. Ataca seu eleitorado e quem o apoia como ignorante, tosco e xucro. A consequência mais óbvia do equívoco é reforçar no eleitorado a imagem de que é uma candidatura contra as elites. Não poderia haver apoio mais efetivo a Bolsonaro do que desqualificar sua candidatura nesses termos.

Enfrentar Bolsonaro de maneira eficaz exige primeiro aceitar que ele tem direito de ser candidato. Mais que isso, exige aceitar que ele está exercendo esse direito, que Bolsonaro é candidato. Parece óbvio, mas não é. O estado de negação em que se encontra boa parte da elite pensante está atrasando de maneira alarmante o combate efetivo a essa ameaça, que tem de ser travado, neste momento, na arena propriamente eleitoral.

Aceitar Bolsonaro como candidato permite atacá-lo em seu ponto de maior vulnerabilidade. Em uma campanha eleitoral, o que conta é demonstrar capacidade e convencer de que poderá resolver os problemas do país com política. Todas as vezes em que foi levado a esse terreno, o líder autoritário das redes sociais fracassou de maneira inapelável.

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A Estratégia de Lula

A Estratégia de Lula

Marcos Nobre

Por que o ex-presidente adia a escolha de seu substituto

A escolha de Geraldo Alckmin pelo Centrão concluiu o leilão de privatização da candidatura unificada de centro-direita. Começou de fato a campanha. E a primeira ideia que ocorre é que a bola passou para a centro-esquerda, que seria obrigada a se mexer. Isso significa: Lula teria de indicar já quem vai substituí-lo na urna em outubro. Só que a estratégia do ex-presidente é bastante diferente.

Mesmo preso, Lula conseguiu colaborar em muito para o adiamento da unificação da centro-direita. Se não se sabe quem será o adversário, fica difícil organizar estratégias eleitorais. Especialmente se o adversário preso é o líder isolado na intenção de votos. Já escaldada por quatro derrotas presidenciais contra Lula, a centro-direita pagou para ver qual seria a capacidade do ex-presidente de fazer articulações mesmo estando preso e sem poder ser candidato.

 

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O centrão propõe

Marcos Nobre – Revista Piauí – 18/07/2018

“A eleição deste ano é de repactuação. O pacto anterior contava com dois pilares, PT e PSDB, que sustentavam a ponte formada pelos PMDBs todos. Caiu a ponte, racharam os pilares. Não é de surpreender que até agora não se tenha uma única aliança eleitoral nacional consolidada. O que surpreende é que a única proposta de repactuação tenha vindo até agora do Novo Centrão, na formulação que lhe foi dada pelo consórcio formado por DEM, PP e SD. A proposta é abandonar o modelo organizado em dois polos, com um mar de PMDBs no meio. A ideia é produzir antes da eleição o bloco que irá governar. Ou seja, dividir o butim de governo desde já, diminuindo ao máximo a margem de manobra de quem se eleger. Como contrapartida à limitação da margem de ação do futuro presidente, oferece a diminuição das instabilidades do início de governo, típicas do modelo peemedebista do pacto anterior.”

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